Diversidade de Raça e Gênero no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro (2002-2023)

Este texto revisita a história do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro (GPCB) com o objetivo de analisar as desigualdades de gênero e raça entre indicados e vencedores. Para tal, observamos as categorias de premiação das edições do evento realizadas entre 2002 e 2023. Por um lado, buscamos entender qual a participação geral dos grupos sociais; e, por outro, mapeamos onde e como os perfis sub-representados aparecem. Os resultados demonstram o predomínio de pessoas brancas em todas as competições, com maioria substantiva de homens brancos nos postos de direção e roteiro. Por outro lado, pessoas pretas, pardas ou indígenas (PPIs) se destacam como casos individuais excepcionais, assumindo a liderança de homenageados entre os elencos. Sobressaem nomes como Dira Paes, Lázaro Ramos, Flávio Bauraqui e Fabrício Boliveira.

O objetivo deste texto é analisar a desigualdade de raça e gênero na história do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro (GPCB). Além de atualizarmos e revisarmos uma base de dados antiga (Martins et al., 2017), no presente texto dedicamos atenção especial à trajetória de participação de pessoas pretas, pardas ou indígenas (PPIs) e mulheres no evento. Esta dupla abordagem tem como intuito, por um lado, mapear as desigualdades mais amplas, e, por outro, dar visibilidade aos grupos sociais que são sub-representados nos espaços de poder da indústria cinematográfica. Para tal, após uma breve introdução, incluímos uma nota metodológica sobre como fizemos a coleta e a sistematização de informações, e, em seguida, discutimos os resultados encontrados para as principais categorias da premiação, concluindo com um panorama geral das assimetrias na competição. Há cerca de uma década o GEMAA produz indicadores sociais sobre as desigualdades nos filmes nacionais de grande público. O critério de recorte desta pesquisa – a frequência nos cinemas – tem como objetivo revelar quais assimetrias caracterizam a construção de tramas com alto impacto no público, ao mesmo tempo que evidencia a demografia de um nicho de elite de cineastas, composto por realizadores que conseguem distribuir e dar visibilidade a seus filmes nas salas de exibição do país, desafio ainda consistente para todos, face à dominação estrangeira no setor. As políticas públicas são determinantes para garantir espaço para os filmes brasileiros nas salas de cinema, mas também para definir uma difusão mais justa de recursos para os perfis sociais que criam os longas-metragens.

As políticas públicas são determinantes para garantir espaço para os filmes brasileiros nas salas de cinema, mas também para definir uma difusão mais justa de recursos para os perfis sociais que criam os longas-metragens.

Nenhuma mulher preta, parda ou indígena (PPIs) dirigiu ou roteirizou filmes de grande público no Brasil nas últimas décadas, sendo os homens PPIs e, logo depois, as mulheres brancas, parcelas sub-representadas neste grupo de cineastas, mas não totalmente excluídas. Os homens brancos, por sua vez, além de dominarem nas posições de direção, também o fazem entre roteiristas e entre personagens representados nas tramas (Candido e Campos, 2024; Candido et al.,2021). Relatórios da Agência Nacional do Cinema (Ancine) reforçam o diagnóstico, mostrando que ele é abrangente a todos os lançamentos de longas-metragens (Mercês e Machado, 2018; Jomori de Pinho et al., 2023). Cotas em editais de ampla concorrência para financiamento de produções e editais especiais para grupos sociais, como os promovidos com recorte de gênero e/ou de raça, são, portanto, essenciais para alterar um quadro intenso de disparidades entre realizadores. Mas se há desigualdades na composição da elite econômica do cinema brasileiro, como os grupos sub representados podem ter reconhecimento no setor? Premiações e festivais são espaços de consagração do cinema que possibilitam dar visibilidade a filmes que não conquistam grande público ou figuram em circuitos restritos. Eles têm surgido como lugares de ativismo das produções de pessoas negras e de mulheres, sendo cada vez mais regulares nos últimos anos. A pesquisa de Edileuza Penha de Souza e Marcus Mesquita (2023), por exemplo, mapeia os encontros, festivais e mostras de audiovisual que buscam combater o apagamento do cinema negro. Os autores destacam o crescimento destas iniciativas em distintas regiões do país, que está também associado ao agendamento de reivindicações de políticas para mais diversidade no mercado audiovisual.

No levantamento que agora apresentamos, optamos por avaliar o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro (GPCB) por três razões. Em primeiro lugar, trata-se de uma premiação de ampla concorrência, o que nos permite discutir as desigualdades entre diferentes grupos sociais em um segmento onde o desempenho de público não é determinante no sucesso. Em segundo lugar, os indicados e os vencedores de cada categoria do evento são selecionados por profissionais do audiovisual de variadas funções, tendo eles recebido o direito a voto mediante associação à Academia Brasileira de Cinema (ABC). Isto significa que a oportunidade de concorrer no GPCB representa também um reconhecimento da própria comunidade de trabalhadores do cinema. É um prestígio proporcionado por pares especializados. Por fim, trata-se da principal premiação do país direcionada à indústria cinematográfica.

O GPCB tem quase um quarto de século. Criado em 2002, o evento é realizado anualmente e feito pela ABC com a proposta de fomentar os filmes nacionais. Os indicados para concorrer à premiação de 2024 já foram anunciados, mas o desfecho de tal competição ocorrerá somente no dia 28 de agosto. Os resultados que discutimos abaixo consistem, então, no período temporal que vai de 2002 a 2023. Computamos características de todos esses anos para nove categorias: “Melhor Longa-Metragem de Ficção”, “Melhor Longa-Metragem Documentário”, “Melhor Direção”, “Melhor Roteiro Original”, “Melhor Roteiro Adaptado”, “Melhor Atriz”, “Melhor Ator”, “Melhor Atriz Coadjuvante” e “Melhor Ator Coadjuvante”. A exceção ficou a cargo de anos que não tinham informações, como 2006 – para todas as categorias – e 2002 – para a categoria “Melhor Roteiro Adaptado”.

Somado a isso, traçamos um panorama da edição concluída mais recentemente para as categorias “Melhor Comédia”, “Melhor Longa-Metragem Infantil”, “Melhor Primeira Direção”, “Melhor Direção de Fotografia”, “Melhor Direção de Arte”, “Melhor Figurino”, “Melhor Maquiagem”, “Melhor Efeito Visual”, “Melhor Montagem”, “Melhor Som”, “Melhor Filme Ibero-Americano”, “Melhor Filme Internacional”, “Melhor Curta-Metragem Ficção”, “Melhor Curta-Metragem Animação” e “Melhor Curta-Metragem Doc”. Esta segunda leva de observações nos permitiram trazer outras questões ao debate, como a divisão sexual do trabalho no audiovisual, e as diferenças de igualdade em distintos formatos de produção.


Resultados

A predominância de brancos, especialmente homens, é quase absoluta em todas as categorias que avaliamos. Os diretores homens brancos receberam 4 vezes mais indicações à categoria de “Melhor Ficção” que todos os outros três grupos somados (mulheres brancas, mulheres PPIs ou homens PPIs). Quando passamos para os vencedores, essa predominância cai ligeiramente (de 81% para 70%). Embora em termos proporcionais a participação das mulheres brancas seja maior entre os premiados do que entre os indicados, elas levaram 6 prêmios em meio a 17 indicações, enquanto os homens brancos ganharam 16 vezes em 100 indicações no período temporal em questão (2002 2023).

Raça e Gênero dos Diretores Indicados e Vencedores de “Melhor Ficção” no GPCB (2002-2023)

Em contrapartida, a presença de pessoas PPIs entre as indicadas e premiadas é ínfima. Nos 22 anos analisados somente sete homens PPIs foram indicados, sendo quatro deles concentrados na nomeação de 5X Favela – Agora por nós mesmos, em 2011, e outros três mais recentes, como Jeferson De, por Bróder em 2012, Lázaro Ramos por Medida Provisória e Gabriel Martins por Marte Um, ambos em 2023. A vitória, contudo, só veio com Martins, na referida produção, que foi oriunda de financiamento do Edital Longa BO Afirmativo e levou também diversos outros prêmios.

Mulheres brancas, por sua vez, abrem as premiações em “Melhor Ficção”, com Laís Bodanzky conquistando o posto com Bicho de Sete Cabeças em 2002. Depois dela, mulheres brancas dividiram a premiação com homens brancos em 2003 (Cidade de Deus, de Fernando Meirelles e Kátia Lund) e 2005 (Cazuza – O Tempo Não Pára, de Sandra Werneck e Walter Carvalho); e voltaram a ganhar sozinhas em 2010 (É Proibido Proibir, de Anna Muylaert), 2016 (Que Horas Ela Volta, de Anna Muylaert) e 2021 (A Febre, de Maya Da-Rin). Vale mencionar que a única pessoa, independente do gênero, a se repetir na premiação desta categoria é a diretora Anna Muylaert, que conquistou o posto duas vezes. Nenhuma mulher PPI recebeu essa honraria.

As explicações para esse estado de coisas são complexas. De fato, são poucas mulheres PPIs a terem finalizado longas-metragens no país. Mas há uma série de trajetórias que foram apagadas ao longo do tempo, como é o caso de Adélia Sampaio, pioneira no audiovisual nacional que iniciou sua carreira junto à geração do Cinema Novo, como nos relembra Janaína Oliveira (2019). O grupo tem presença maior também em curtas e médias-metragens, dando frequentes declarações de dificuldades em ascender à produção de um longa.

Os documentários costumam ser um gênero mais inclusivo para variados grupos sociais. No Gráfico 2 vemos que a proporção de indicados homens pretos e pardos na direção de documentários é metade da encontrada no prêmio de melhor ficção (Gráfico 1). Somado a isso, só pessoas brancas aparecem entre casos vencedores. No entanto, as mulheres brancas estão em menor proporção entre laureadas em documentários (19%) do que em ficções (26%). O único sinal de mudança positiva no quesito diversidade é nas indicações de mulheres PPIs, que finalmente aparecem e chegam a compor 1%, sendo elas: Tetê Moraes, por O Sonho de Rose – 10 anos depois, ainda em 2002, e Camila Pitanga em parceria com Beto Brant, com Pitanga, em 2018.

Raça e Gênero dos Diretores Indicados e Vencedores de “Melhor Documentário” no GPCB (2002-2023)

Nas categorias “Melhor Ficção” e “Melhor Documentário”, focamos no cargo de direção para discutir características demográficas e de diversidade nas seleções do GPCB. O Gráfico 3 traz os dados dos indicados e premiados na categoria “Melhor Direção”, propriamente dita. O resultado para homens pretos ou pardos é levemente melhor no que diz respeito à proporção entre os premiados (6%). Por outro lado, a indicação de um homem deste grupo só ocorreria pela primeira vez em 2012, com Bróder, de Jeferson De; e a conquista da vitória só em 2021, quando o mesmo diretor levou o prêmio por M8 – Quando a Morte Socorre a Vida. Mulheres PPIs aqui seguem ausentes.

Raça e Gênero dos Diretores Indicados e Vencedores de “Melhor Direção” no GPCB (2002-2023)

Nas categorias “Melhor Roteiro Original” e “Melhor Roteiro Adaptado” é mais comum ver trabalhos em parceria, por isso a quantidade de indicados excede bastante a de diretores/as. O Gráfico 4 mostra que há uma tímida melhoria na diversidade racial da disputa pelo prêmio de “Melhor Roteiro Original”, com indicações para mulheres e homens pretos, pardos ou indígenas. Neste quesito, Davi Kopenawa Yanomami é o primeiro e único a aparecer no levantamento classificado como indígena. Trata-se de um dos autores do roteiro de A Última Floresta, concorrente de 2022, assinado junto com Luiz Bolognesi, um homem classificado como branco.

Raça e Gênero dos Diretores Indicados e Vencedores de “Melhor Roteiro Original” no GPCB (2002-2023)

Para pessoas PPIs a primeira indicação na categoria de “Melhor Roteiro Original” viria somente em 2011, também por um texto assinado em coautoria entre Melanie DiMantas e Paulo Halm, uma mulher branca e um homem PPI. O primeiro caso de premiado, contudo, foi registrado uma década depois, em 2022, no roteiro de Desejo Particular, assinado por Henrique dos Santos, homem classificado como PPI, e Aly Muritiba, homem de cor branca. Mulheres de cor PPI constam como indicadas em Divinas Divas, de 2018, e Cidade Pássaro, de 2021, mas nunca levaram o prêmio. Os roteiros destas duas produções envolveram também coautoria. Em Divinas Divas constam duas mulheres brancas (Carol Benjamin e Leandra Leal), um homem branco (Lucas Paraizo) e uma mulher PPI (Natara Ney). Já em Cidade Pássaro são seis pessoas: duas mulheres brancas (Julia Murat e Maíra Bühler), dois homens brancos (Roberto Winter e Matias Mariani) e duas mulheres PPIs (Chika Anadu e Francine Barbosa).

Como os gráficos têm mostrado, a presença de mulheres brancas costuma ser maior do que a de homens e mulheres de cor preta, parda ou indígenas. Isto se confirma ao longo da série temporal. É possível encontrar mulheres brancas indicadas e vencedoras de prêmios do GPCB já desde seu início. No que toca ao “Melhor Roteiro Original”, Patrícia Melo, mulher classificada como “branca”, assina a coautoria do roteiro do filme premiado de 2002, O Xangô de Baker Street, com Miguel Faria Jr, um homem branco. Apesar disso, cabe ressaltar que o grupo de mulheres brancas está sub-representado na maioria das disputas. O privilégio de ser reconhecido por feitos no cinema nacional segue como quase monopólio de um gênero e uma cor: o homem branco.

No Gráfico 5, de “Melhor Roteiro Adaptado”, a variedade de perfis sociais diminui e a proporção dos homens brancos premiados aumenta (88%) em comparação a registrada em “Melhor Roteiro Original” (77,5%). É, no entanto, uma mulher branca que leva o primeiro prêmio, Suzana Amaral, com Uma Vida em Segredo, em 2002. O primeiro homem PPI indicado nesta categoria chegaria dois anos depois, em 2004: Paul Halm, por 2 Perdidos numa Noite Suja. Entre vitoriosos, o primeiro premiado preto foi Jefferson De, somente em 2021, que dividiu o prêmio com Felipe Sholl, de cor branca. O filme foi M8 – Quando a Morte Socorre a Vida.

Raça e Gênero dos Diretores Indicados e Vencedores de “Melhor Roteiro Adaptado” no GPCB (2002-2023)

Enquanto atrás das câmeras a situação das indicações e das premiações é de predomínio considerável dos homens brancos, nas competições voltadas a consagrar os elencos a desigualdade racial ganha proeminência mais isolada. Tais disputas são separadas por gênero, ou seja, há seleções direcionadas às atrizes e aos atores. No Gráfico 6, referente ao prêmio de “Melhor Atriz”, vemos que as mulheres brancas são maioria esmagadora entre as indicadas e as vencedoras, com proporções de 5 para 1 e 4 para 1, respectivamente. Se observamos os nomes destas atrizes, entretanto, constatamos uma série de repetições. Do total de 111 selecionadas para concorrer ao prêmio, há 60 atrizes diferentes, ou seja, muitas atrizes são indicadas mais de uma vez, conquistando também o prêmio mais de uma vez.

Dira Paes, por exemplo, que foi classificada como PPI, lidera com nove indicações e três prêmios. Depois de Dira Paes, com sete indicações, estão Glória Pires e Andréa Beltrão; seguidas de Leandra Leal, com cinco; Alice Braga, Débora Falabella, Fernanda Montenegro e Marcélia Cartaxo, com quatro; Adriana Esteves, Hermila Guedes, Júlia Lemmertz, Marieta Severo e Simone Spoladore, com três; e, por fim, Andréia Horta, Deborah Secco, Leona Cavalli, Marjorie Estiano, Regina Casé, Sophie Charlotte, com duas. As atrizes restantes, que somam 40, foram nomeadas só uma vez.


Entre as mulheres classificadas como PPIs indicadas, além de Dira Paes, que esteve já no pleito da primeira edição do GPCB, estão: Roberta Rodrigues, Zezeh Barbosa, Nanda Costa, Regina Casé, Grace Passô, Bárbara Colen e Kika Sena. Casé, por seu turno, foi a única deste grupo a também receber o prêmio. Entre as mulheres brancas laureadas duas vezes estão Glória Pires, Leandra Leal e Marcélia Cartaxo. É digno de nota que apesar de ter sido indicada desde 2002, Dira Paes só recebeu seu primeiro prêmio em 2013, cerca de 11 anos depois do início do evento.

Raça e Gênero dos Diretores Indicados e Vencedores de “Melhor Atriz” no GPCB (2002-2023)

A categoria “Melhor Atriz Coadjuvante” traz novamente Dira Paes em evidência. Ela empata com Andrea Beltrão, Alice Braga e Leandra Leal, no quesito maior número de indicações, totalizando cinco. Por outro lado, neste quesito a atriz não foi premiada. Sua primeira indicação foi em 2005, inaugurando também a tímida diversificação racial das nomeadas para tal categoria. As únicas atrizes PPIs a receberem o prêmio foram Thalita Carauta, por O Lobo Atrás da Porta, de 2015, e Zezé Motta, por Doutor Gama, em 2022. As demais indicadas deste grupo foram Camila Pitanga, Roberta Rodrigues, Ana Marlene, Bárbara Santos e Camila Damião. Dentre as atrizes, no geral, que se repetiram nas selecionadas para disputa estão Laura Cardoso e Zezé Motta, com quatro indicações; Drica Moraes, Fabiula Nascimento e Sandra Corveloni, com três; Adriana Esteves, Angela Leal, Camila Márdila, Cassia Kiss, Clarisse Abujamira, Cláudia Abreu, Denise Fraga, Fernanda Montenegro, Hermila Guedes, Júlia Lemmertz, Karine Teles, Maeve Jinkins e Simone Spoladore, com duas. Outras 49 atrizes foram nomeadas só uma vez. No Gráfico 7 é possível ver a distribuição racial de todas.

Raça e Gênero dos Diretores Indicados e Vencedores de “Melhor Atriz Coadjuvante” no GPCB (2002-2023)

Entre os atores, há também PPIs liderando indicações, a despeito do grupo ser minoritário no total, como mostra o Gráfico 8. Na categoria “Melhor Ator”, Lázaro Ramos, classificado como PPI, é o que recebeu mais indicações, somando oito. Selton Mello e Wagner Moura aparecem na sequência, com sete nomeações; Daniel de Oliveira e Irandhir Santos, receberam seis; João Miguel, cinco; Chico Diaz, quatro; Caio Blat, Marco Nanini, Marco Ricca, Matheus Nachtergaele e Rodrigo Santoro, três; Alexandre Borges, Angelo Antônio, Caco Ciocler, Cauã Reymond, Fabrício Boliveira, Flávio, Bauraqui, Jesuíta Barbosa, José Dumont, Murilo Benício, Paulo José, Raul Cortez, Silvio Guindane, Stepan Nercessian e Tony Ramos, duas. Foram 117 nomeações para 58 atores, sendo que 32 deles receberam unicamente uma indicação.


Dos 23 atores PPIs a concorrerem nesta categoria, dois estiveram presentes na segunda edição do GPCB, em 2003, sendo eles Leandro Firmino da Hora, por Cidade de Deus, e o próprio Lázaro Ramos, por Madame Satã, que o levou a premiação. Isto significa que a primeira das ocorrências do evento, em 2002, foi consagrada com indicações somente de atores brancos. Logo abaixo listaremos os outros anos em que isso ocorre. Por hora, cabe mencionar que os outros atores pretos ou pardos que disputaram o prêmio foram José Dumont, Ailton Graça, Flávio Bauraqui, Fabrício Boliveira, Edmilson Filho, Babu Santana, Silvero Pereira, Silvio Guidance, Seu Jorge, Carlos Francisco, Antonio Pitanga e Alfred Enoch. Além de Ramos, Babu Santana também foi laureado uma vez e Fabrício Boliveira, duas, sendo ele o ator que foi mais vitorioso nesta categoria, atrás somente de Selton Mello, que ganhou três vezes.

Raça e Gênero dos Diretores Indicados e Vencedores de “Melhor Ator” no GPCB (2002-2023)

As proporções de indicados e vencedores na categoria “Melhor Ator Coadjuvante” (Gráfico 9) apresentam padrão similar às de “Melhor Ator” (Gráfico 8). Nesta seara, há novamente liderança de um ator PPI entre indicados: Flávio Bauraqui, com cinco nomeações. Caco Ciocler e João Miguel somam duas; enquanto Augusto Madeira, Cauã Reymond, Chico Diaz e Otávio Muller, três; e, por fim, Ailton Graça, André Abujamra, Angelo Antônio, Babu Santana, Caio Blat, Cássio Gabus Mendes, Claudio Jaborandy, Emiliano Queiroz, Emílio de Mello, Gero Camilo, Irandhir Santos, Jesuíta Barbosa, Jonathan Haangensen, José Dumont, Matheus Nastchergaele, Milhem Cortaz, Paulo Miklos e Selton Mello, duas. 81 atores receberam um total de 117 indicações, sendo que 56 receberam só uma nomeação.


Desta vez, contudo, os atores mais premiados foram: Chico Diaz e João Miguel, que ganharam duas vezes. O restante foi laureado uma vez. De atores classificados como PPIs, os únicos a vencerem na categoria “Melhor Ator Coadjuvante” foram Gero Camilo, por personagem em Narradores de Javé, em 2005, José Dumont, em 2007 com 2 Filhos de Francisco, Babu Santana, em 2009 por Estômago, Flávio Bauraqui, em 2017 por Nise: O Coração da Loucura, e Cícero Lucas, por Marte Um, em 2023. Entre indicados deste grupo estiveram ainda Jonathan Haangensen, Douglas Silva, Sabotage, Nélson Xavier, Lazáro Ramos, André Ramiro, Ailton Graça, Fabrício Boliveira e Emicida.

Raça e Gênero dos Diretores Indicados e Vencedores de “Melhor Ator Coadjuvante” no GPCB (2002-2023)

Os indicadores acima demonstram que a população classificada como PPIs, ou classificada como preta ou parda, está sub-representada nos longas-metragens nacionais de prestígio, mas, por outro lado, recebe algum reconhecimento. Contudo, é preciso notar que diversas edições da premiação chegaram a excluir totalmente atrizes e atores PPIs. Em mais de duas décadas, entre 2002 e 2023, excluindo 2006 por ausência de dados, a indicação somente de pessoas brancas ocorreu em 38% das vezes na categoria “Melhor Atriz” (mais especificamente em 2005, 2009, 2010, 2011, 2012, 2014, 2015 e 2017), 38% na categoria “Melhor Atriz Coadjuvante” (em 2002, 2003, 2004, 2008, 2016, 2017, 2018 e 2019) , 38% das vezes na categoria “Melhor Ator” (em 2002, 2008, 2009, 2010, 2011, 2012, 2013 e 2018) e 24% na categoria “Melhor Ator Coadjuvante” (em 2002, 2008, 2013, 2014, 2016). Embora os resultados para direção e roteiro sejam desiguais no quesito de raça e gênero, nos parece também muito preocupante que em diversos anos de premiação do cinema brasileiro, a imagem do país seja reforçada a partir de padrões estéticos que não contemplam a maioria da população. A presente análise não busca destituir de mérito os atores brancos indicados ao longo de toda a trajetória do prêmio, mas sim mais uma vez apontar para um problema que diz respeito ao cinema como um todo. Ele não é particular de um ator, de uma atriz ou de uma produção: ele é coletivo. Os PPIs são excluídos, estereotipados e pouco reconhecidos nos filmes produzidos no Brasil e podemos observar isso ao analisarmos diferentes frentes de prestígio e poder da indústria cinematográfica.

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Sumário dos resultados

Homens brancos dominam as premiações de direção e roteirodo Grande Prêmio do Cinema Brasileiro

  • Diretores homens brancos são 70% dos vencedores na categoria “Melhor Ficção”, 81% dos vencedores em “Melhor Documentário” e 74% dos vencedores em “Melhor Direção”.
  • Roteiristas homens brancos são 77,5% dos vencedores em “Melhor Roteiro Original” e 88% em “Melhor Roteiro Adaptado”.


Destaques dos grupos sub-representados

  • Laís Bodansky (mulher branca) foi a primeira pessoa a vencer na posição de direção
    da categoria de “Melhor Ficção”. Ela foi premiada em 2002 por Bicho de Sete Cabeças.
  • Anna Muylaert (mulher branca) foi a pessoa que mais foi agraciada na premiação de direção da categoria de “Melhor Ficção”. Ela venceu por É Proibido Fumar, em 2010, e Que Horas Ela Volta, em 2016.
  • Mulheres pretas, pardas ou indígenas só aparecem entre indicadas à premiação de direção na categoria de ‘Melhor Documentário”. Elas representam 1% dos concorrentes, mas têm uma pioneira já indicada em 2002, sendo ela Tetê Moraes por comandar O Sonho de Rose – 10 anos depois.
  • O primeiro homem preto, pardo ou indígena a ser indicado à categoria de “Melhor Direção” foi Jeferson De, que concorreu em 2012 por Bróder. O mesmo diretor seria também o primeiro a vencer o prêmio, tendo sido agraciado em 2021 por M8 – Quando a Morte Socorre a Vida.
  • O ano de 2022 registrou o primeiro vencedor indígena na categoria de “Melhor Roteiro Original”. Davi Kopenawa Yanomami ganhou o prêmio ao lado de Luiz Bolognesi, um homem branco, por A Última Floresta.
  • Mulheres brancas estão entre agraciadas em “Melhor Roteiro Original” já na primeira edição do evento, em 2002. Patrícia Melo abre a premiação em coautoria com Miguel Faria Jr no roteiro pelo filme O Xangô de Baker Street.
  • Em “Melhor Roteiro Original”, dois filmes possuem indicadas mulheres classificadas como PPI: Divinas Divas, de 2018, e Cidade Pássaro, de 2021. Ambos possuem roteiros coletivos. No primeiro, dividem o texto duas mulheres brancas (Carol Benjamin e Leandra Leal), um homem branco (Lucas Paraizo) e uma mulher PPI (Natara Ney). No segundo, duas mulheres brancas (Julia Murat e Maíra Bühler), dois homens brancos (Roberto Winter e Matias Mariani) e duas mulheres PPIs (Chika Anadu e Francine Barbosa).

Pessoas brancas dominam as indicações para premiação do elenco do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, mas as atrizes e atores pretos, pardos ou indígenas ganham destaque

  • Na categoria “Melhor Atriz”, mulheres brancas são 84% das indicadas e 81% das vencedoras contra 16% de indicadas mulheres pretas, pardas ou indígenas e 19% de vencedoras.
  • Na categoria “Melhor Atriz coadjuvante” mulheres brancas são 88% das indicadas e 91% das vencedoras contra 13% de indicadas mulheres pretas, pardas ou indígenas e 9% de vencedoras.
  • Na categoria “Melhor Ator” homens brancos são 80% dos indicados e 73% dos vencedores contra 20% de indicados homens pretos, pardos ou indígenas e 27% de vencedores.
  • Na categoria “Melhor Ator coadjuvante” homens brancos são 79% dos indicados e 78% dos vencedores contra 21% de indicados homens pretos, pardos ou indígenas e 22% de vencedores.
  • Em mais de duas décadas, entre 2002 e 2023, excluindo 2006 por ausência de dados, a indicação somente de pessoas brancas ocorreu em 38% das vezes na categoria “Melhor Atriz”, 38% na categoria “Melhor Atriz Coadjuvante”, 38% das vezes na categoria “Melhor Ator” e 24% na categoria “Melhor Ator Coadjuvante”.

Destaques dos grupos sub-representados

  • Apesar das mulheres pretas, pardas ou indígenas serem somente 16% das indicadas e 19% das vencedoras na categoria “Melhor Atriz”, Dira Paes lidera as indicações e êxitos na competição, totalizando participação em nove premiações entre 2002 e 2023, dentre as quais ela venceu três. Ela foi indicada já na primeira edição, em 2002, mas só foi agraciada pela primeira vez em 2013.
  • Dira Paes está também entre as mais indicadas na categoria “Melhor Atriz Coadjuvante”, empatada com cinco indicações junto às seguintes mulheres brancas: Andrea Beltrão, Alice Braga e Leandra Leal. Nesta segunda categoria, contudo, ela ainda não venceu. As duas atrizes pretas, pardas ou indígenas a ganharem foram: Thalita Carauta, por O Lobo Atrás da Porta, de 2015, e Zezé Motta, por Doutor Gama, em 2022.
  • O ator Lázaro Ramos foi o que mais recebeu indicações à categoria de “Melhor Ator”, somando 8 participações. A primeira vez que o ator foi indicado nesta competição foi em 2003 por sua atuação em Madame Satã, filme que também renderia a sua primeira e única vitória na disputa. Na sequência aparecem Selton Mello e Wagner Moura com sete indicações.

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