Dados de participação das mulheres na ciência

A desigualdade de gênero é uma marca de quase todas as áreas da ciência. Mulheres tendem a ser minoria em inúmeras disciplinas e enfrentam mais obstáculos que os homens para manter a carreira ou progredir a posições de poder. Como parte do projeto “Diversidade na Ciência Brasileira”, que tem apoio do Instituto Serrapilheira, o GEMAA divulga a plataforma sobre desigualdades de gênero na pós-graduação. A ferramenta tem como objetivo tornar acessível ao público indicadores sociais inéditos. Nos gráficos abaixo, é possível consultar a proporção do gênero feminino em cada um dos campos científicos de acordo com diferentes períodos temporais e variadas relações entre os dados. 

O primeiro gráfico desta página permite observar a evolução da participação de mulheres na ciência entre os anos de 2004 e 2020. Há, ainda, um mecanismo de filtragem para seleção de áreas do conhecimento. Estes indicadores podem atestar a presença ou não de “efeito tesoura”. Tal fenômeno consiste no corte de proporção do gênero feminino na medida em que a carreira acadêmica progride, ou seja, na redução da presença de mulheres na passagem do mestrado ao doutorado, ou do doutorado à ocupação de cargo docente estável. Isto ocorre na maior parte das áreas do conhecimento, como vocês podem verificar na ferramenta interativa.

Participação de mulheres

Fonte: Gemaa com dados da CAPES
*As áreas Ciências Biológicas I, II e III foram agrupadas em Ciências Biológicas, Engenharias I, II, III e IV em Engenharias e Medicina I, II e III em Medicina.

O gráfico a seguir sintetiza os dados acima no Quociente de Inclusão de Gênero na Pós-Graduação (QIGPG). Ele mostra a proporção de mulheres doutoras em cada área comparada à proporção de mulheres docentes em programas de pós por quadriênio. Valor 1 significa equivalência entre doutoras e docentes mulheres. Quando o valor do QIGPG for menor que 1, é uma indicação de barreira na passagem do doutorado para a docência.

Quociente de Inclusão de Gênero na Pós-Graduação (QIGPG)

Fonte: Gemaa com dados da CAPES

A relação entre a proporção de mulheres doutoradas e mulheres docentes em diferentes áreas do conhecimento

O terceiro gráfico desta plataforma apresenta a proporção de professoras permanentes nos programas de pós-graduação de universidades brasileiras (eixo vertical) comparada à sua proporção entre tituladas no doutorado (eixo horizontal). Os dados se referem exclusivamente ao ano de 2020. Há alguns rótulos para disciplinas selecionadas. A posição de cada círculo representa o encontro entre a proporção de doutoras e a de professoras. O tamanho dos círculos indica a dimensão da comunidade acadêmica de docentes de pós-graduação, ou seja, o total de professores/as. A cor das bordas de tais círculos, por fim, se refere à grande área de conhecimento à qual pertence a disciplina, indicada na paleta da legenda ao lado direito. 

Nota metodológica

A base que origina os gráficos foi feita após a sistematização de dados brutos extraídos da Plataforma de Dados Abertos da CAPES. Agrupamos informações de docentes com vínculo permanente na pós-graduação e discentes titulados como mestres ou doutores entre os anos de 2004 e 2020, o que totalizou 3.904.422 casos com repetições de pessoas durante o período. Destes quase quatro milhões de registros, atribuímos gênero pelo pacote genderBR (Meireles, 2017) a 3.761.970 casos, o que representa 96% da base. Retiramos os 4% restantes, que não foram contemplados pelo pacote, ou seja, nomes raros. Vale pontuar que tal classificação tem a limitação de ser binária. Ainda não dispomos de recursos para alcançar esse grande montante de acadêmicos por outros meios. Trata-se, portanto, somente de um dos passos necessários para debatermos os desafios em torno da promoção de uma ciência mais inclusiva e plural.

Referência

Meireles, Fernando. (2017). genderBR: predizendo sexo a partir de nomes próprios. 

Leia mais sobre a pesquisa:

Candido, Marcia. (2023). Como anda a inclusão de mulheres na ciência brasileira? Três modos de observar os dados. Nexo Políticas Públicas. Disponível em: https://pp.nexojornal.com.br/opiniao/2023/Como-anda-a-inclus%C3%A3o-de-mulheres-na-ci%C3%AAncia-brasileira-Tr%C3%AAs-modos-de-observar-os-dados1 

Autoria da base de dados: 

André Félix

Willian Bryan da Silva Souza

Pesquisa:

Marcia Rangel Candido (Pesquisadora de pós-doutorado, Faperj nº SEI-260003/019653/2022)

Supervisão:

Luiz Augusto Campos